sábado, março 09, 2013

'Recipiente-se'

Pequenas doses de um líquido podem se tornar bastante filosóficas quando se há possibilidade de um olhar além. Sendo assim, hoje não me foi incomum um recipiente com água, como em outros dias talvez o fosse.
De maneira peculiar pude perceber que ali dentro daquele recipiente havia um conteúdo pouco controlável, daqueles que não obedecem comandos e que não podemos organizar do modo que queremos. Um conteúdo um tanto disperso e intenso; o qual não existe maneira ou forma de se controlar por inteiro.
Ali dentro daquela amostra estava uma tentativa de contenção, de delineamento, de controle.
Um modo muito semelhante do que fazemos diariamente com tantos líquidos que desejamos derramar por aí, onde andamos. Buscamos, como algumas garrafas, assegurar que aquele líquido jamais caia ou extravase.
É algo estranho, mas simples ao mesmo tempo. São formas de tentarmos nos organizar e lidar com o que nós mesmos produzimos. Podemos ter sucesso ou não; até as garrafas se deixam vazar a depender da pressão. E como forma de cuidado, não podemos deixar que uma gota sequer respingue, pois muitas vezes não sabemos o grau de acidez desta.
Entretanto, vez ou outra cometemos uma falha, um deslize, ou uma tropeçada... e o líquido se perde. E, como já presumido, não há como resgatá-lo; ele invade lugares que não mensuramos.
Tenta-se secá-lo, absorvê-lo, limpar o estrago que fez, mas sua marca ali ficou, não há como negar, deve-se  apenas tomar cuidado com outros conteúdos para que transbordem também.
E de recipiente em recipiente buscamos controlar diversos líquidos, esperando não encontrar um recipiente que tenha seu conteúdo heterogêneo (o que não é incomum, vivemos nos misturando). Lidamos com alguns líquidos mais ácidos, outros mais doces, alguns límpidos outros mais escuros, alguns em pouca quantidade outros são como torrentes.
O desafio é entender ou saber o momento de se destampar e deixar-se evadir. Em poucos momentos da vida saberemos quando fazer isso certamente, - o que não garante não fazermos deliberadamente, como numa tempestade avassaladora.
E após o deságue, nos arrependeremos e tentaremos torcer panos como forma de recuperar o que foi perdido.
Enfim, observaremos: o líquido não voltará por completo e trará consigo outras substâncias. Não há mais homogeneidade.
Por isso, tampe-se bem ou deixe extravasar de vez o conteúdo que quer se embriagar.

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