segunda-feira, março 01, 2010

Águas de Março

É estranho me deparar com o significado da palavra "pessoa" e constatar como fazemos jus a esta definição; - Pessoa, vem do grego "máscara", o ato de formar personagens -, coisas do gênero.. E é totalmente notável, a nós, como esta assertiva é verdadeira.
Somos formados por caras e bocas, e nos derramamos de maneiras diferentes a cada pessoa que de nós se aproxima.
Somos capazes de passar por todos os picos de humor em apenas um dia. Somos capazes de mostrar diferentes faces a diferentes pessoas. Somos um só, mas com muitos "Eus".
É estranho tudo isso, mas também é muito lógico: cada pessoa que se aproxima de nós tem consigo, no mínimo, dois poderes. O poder de fazer com que nos reconheçamos nela e o poder de derramar de nós este reconhecimento. É como uma abelha retirando o néctar de uma flor, é desta essência que ela precisa, deste ingrediente que a faz ser melhtor, ser útil.
E neste contexto, percebemos como é possível identificarmo-nos tanto com uma pessoa e não suportarmos estar a presença de uma outra. São os iguais que se derramam neste encontro. Uma nos retira todo o riso e o poder de estar bem, a outra desperta-nos o eu mais obscuro, todo aquele rancor, tristeza, timidez etc. São os eus identificando-se, chocando-se e provando que aquele modo de ser não é agradável ou que aquele sorriso me faz ser melhor.

Ser pessoa, é estarmos dispostos a acreditar que a sobra de um encontro entre pessoas é um espelho que mostra faces que são guardadas por nós. A sobra de um encontro - a repercursão que causou - é nada mais, nada menos, que o derramamento de nós mesmos.
Devemos aprender a lidar com a semelhança que o outro provoca em nós. O defeito que se encontra no outro pode simplesmente ser aquele que lutamos dia-a-dia para ocultar de todos.

Pude notar novamente tudo isto, de forma muito pessoal.
O mês terminou, marcando-me com um grande presente.
A coragem de filtrar o que eu gostaria que sobrasse no meu encontro, com uma pessoa que marca muitas características minhas, fez com que um abraço tomasse o lugar de boas palavras desconsertadas e mal colocadas. Um abraço selou o fim de uma magoazinha sem muito sentido e necessidade. Um abraço deu lugar ao poder de derramarmos um sorriso, umas gentilezas e a felicidade de ver o bem do outro; retirando todo o poder de fazer restar daquele encontro apenas a sobra da angústia, aspereza e o orgulho que ressalta em ambos.
Notei que com coragem poderia fazer daquele encontro algo produtivo para ambos, mesmo que este demorasse apenas alguns segundos. Resgatar no outro a máscara que marca meu sorriso foi a atitude mais corajosa que podia ter tomado neste final de fevereiro.
Ver além das máscaras sombrias que também possuo, ver que ali, há também o sorriso sincero e simplicidade requintada que um dia me fez aproximar-me.
Descobrimos ser pessoa assim, escolhendo a máscara que vamos deixar estrelar em um encontro.
Descobrimos ser pessoa no momento em que eu sei que aquele defeito do outro, me espeta porque está em mim, também!

Fevereiro se despediu deixando deste pequeno encontro uma sobra muito boa, em mim, que com certeza se juntará a essas águas de março - que prevalecem nesta prévia de outono - e germinarão em mim grandes descobrimentos em poder ser melhor, a cada dia. Por hoje.

"São as águas de março fechando o verão
É a promessa de vida no teu
(meu) coração. "




Influência: Pe. Fábio de Melo

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