domingo, julho 18, 2010

Queda livre

"Há sempre algo de ausente que me atormenta."
(Camille Claudel)

Momento de fúria interior: é hora de escrever.
As palavras sempre me parecem mais difíceis e ocultas quando mais pareço precisar delas. E agora não me falta à regra: elas sumiram; mas vou recolhendo uma a uma a medida que vão surgindo.
Diria que em um dia típico paulistano, de pouco sol e muita nuvem, peguei-me a pensar no quão desajustada eu sou. Pareço não caber em lugar algum. Parece haver pouco espaço para alguém como eu (e como eu sou?) e também parece haver espaço demais para mim, onde eu não consigo me segurar.
Queda livre. Isso! Está aí a definição perfeita para meus dias atuais, inconstantes e cinzas. Sinto-me levada pelo sopro de quem soprar mais forte, ou de quem tem o poder de me arrastar. Autoridade, determinação, vontade própria..todos estes itens estão caindo junto de mim neste para- quedas e o vento que os acompanha sopra em sentido contrário.
A Psicologia nos ensina a todo momento um modo simples de análise das situaçães: observar o momento do outro. Analisar? Sim, analisar! E é o que venho fazendo, colocando-me no lugar do outro, daqueles que me vêem simples e unicamente em uma face, daqueles que se esquecem do desdobramento que um Eu pode ter, e deve. Tentam soprar tão forte de maneira a prender-me junto a eles, sem que eu possa, enfim, crescer, mais e mais.. E eu sei que isso não é por mal; mas surge a mim como um tornado de vontades a serem saciadas, respeitadas e exercidas.
Não! Eu quero ser eu, apenas. Deixe-me assim, sorridente, misteriosa, curiosa, astuta, exigente, amante de boas conversas e atraída por belos sorridos. Deixem-me ser eu, sem ter que fazer suas vontades ou de qualquer outro alguém, eu quero e preciso dar meu grito de independência, mesmo que ela seja de mim para mim mesma. Eu preciso.
Não me enxergo inserida efetivamente em lugar algum, há sempre tantas divergências de ideias, de atitudes, de pensamentos, de experiências. Pareço estar sempre fora dos padrões de todos, sem a disponibilizade e desprendimento que todos apresentam. São sempre diferenças aparentemente suportáveis, mas que por hora - e sobretudo hoje - me incomodam.
E tudo se torna uma nuvem escura e carregada - como estas que cobrem estes dias cinzas - que ofusca o brilho que quero emitir, que cobre meus pensamentos e traz sempre a dúvida de não saber o que fazer, nem como fazer. Resta, então, a passividade, a espera do tempo passar.. fluir e a nuvem se desmanchar. E assim quem sabe eu consiga impor meu eu, minha verdade. E consiga, enfim, preencher o espaço que me cabe ou expandir aquele que me falta. O difícil é ser expectadora quando na peça que está sendo encenada e manipulada o personagem principal é seu próprio eu.


"Não adianta me ver sorrir
Espelho meu
Meu riso é seu
Eu estou ilha ... da
Hoje não ligo a TV
Nem mesmo pra ver o Jô
Não vou sair
Se ligarem não estou
À manhã que vem
Nem bom-dia eu vou dar
Se chegar alguém
A me pedir um favor
Eu não sei (...)"
(Djavan)

Quem sou eu

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A mesma de sempre com inúmeras alterações.