segunda-feira, julho 28, 2014

Hoje eu...


Hoje eu acordei e bateu uma grande preguiça. Preguiça da efemeridade. Do vai e vem. Do não ficar.
Acordei com preguiça de começar tudo de novo. De ver pessoas chegar e pessoas sair.
Hoje eu acordei com preguiça de tantas lembranças. De tantas histórias.
Hoje eu simplesmente acordei cansada de saber que tantas coisas vão embora.

Hoje eu andei pensando. E, em cada passo, relembrei inúmeras coisas que se foram e levaram com elas tantas pessoas. Pensei em amigos intensos, em dias compartilhados. Pensei em encontros breves, mas que foram especiais. Senti saudades de alguns dias vividos, mesmo tendo total compreensão do porquê passaram. Hoje eu acordei me questionando. Questionando por que deixei tantas coisas passarem, tantas pessoas irem. Por um momento me culpei.

Sem dúvidas, hoje, eu acordei do avesso. Avesso de mim mesma, avesso do que construí. Ou que do que não se edificou. Acordei colidida, cheia de fiapos e linhas soltas.

Hoje eu acordei intrigada. E me intriga ser quem eu sou. Ou quem eu quero ser. Me intriga saber que passei para tantas pessoas e que não estacionei. Será que tive pressa? Pode ser.
Hoje eu acordei irritada! Irritada com a ideia de que sou lembrança, para tantos e tantas. E lembranças, apesar de serem especiais, correm o risco de serem esquecidas. E os esquecimentos podem representar tantas coisas!
Hoje eu acordei insatisfeita. E minha insatisfação pode ou não ter fundamento. Mas é tão minha!
Acordei insatisfeita com a necessidade de me conformar. E as conformidades são tantas, por toda a vida.
Hoje eu acordei terrivelmente insatisfeita com a desculpa de que ensinei muito, mesmo tendo ido embora.
Insatisfeita com meu não lugar. Com meu excesso ou com o meu doar.

Hoje eu acordei Insatisfeita com o passar. E, apesar de tudo, hoje eu acordei querendo. Querendo ser hoje. Ser atual. Ser agora. Hoje eu despertei com o desejo de acontecimentos demorados. Com o desejo de sentir a continuidade. Despertei com o desejo de ter parada. De saber onde ir. De saber quem encontrar.
Hoje, de fato, eu acordei com o desejo de ter olhares recíprocos. De sentir junto. Com qualquer pessoa, sincronizado.

Hoje eu pensei, como todos os dias.
Hoje eu senti, como todas as manhãs.
Hoje eu desejei, como em todas as tardes.
Hoje eu planejei, como em toda madrugada.
Hoje  eu acordei, assim, um tanto estranha.
E, de fato, hoje, eu estou assim, meio embaraçada.

domingo, julho 20, 2014

E da vida, eu não sei

E da vida não sei o que falar.
Não sei do que viver, nem como fazer.
Ousei uma dia cantar, apontar
Aconselhar, tentar.
Disseram que fiz certo,
hoje, tenho muito o que pensar.

Da vida a gente tira sorrisos, riso, ri
Faz gargalhar.
Por vezes sua prazer, ecoa paixão
Sente o medo, propaga coragem
Exala tristeza, vibra tensão.

Tem dias cinzas, estranhos, ocos
Opacos, claros, gelados.
Tem dias fortes, densos, confusos
intensos, tensos, de colisão.
Tem dias que a gente escorrega,
Arregala os olhos, esconde a feição
Chora escondido, finge mansidão.

O que ela (a vida) dá, a gente transforma, entorta
Tira daqui, coloca acolá
Retoma, toma, assopra, prova,
Compassa e despassa num piscar.
Respira o puro, devolve um penar.
Tem dias que são dias e bastam.
Há dias que são dias e sobram.

Com a vida a gente aprende, surpreende
Compreende, entende, finge aceitar.
Por propósito, sem o óbvio
Por querer ou por negar.
Com a vida a gente aprende,
sem buscar.

Na vida a gente sente, pede,
Arrepia, pira, sufoca, evoca,
Encosta, atira e quer saltar.
Na vida a gente ama e odeia
Sem almejar.
Na vida a gente é, deixa de ser
Busca sei la o que.

A vida tem ciclos, a vida tem voltas.
Tem dias, noites, estrelas, luar.
Antíteses, pronomes, fome,
pecados, predicados, verbos e sangrar.
A vida tem dor, tem bem, tem mal.
Tem busca, encontros, planos, saídas e vindas,
Arrependimentos e contentar.

Ela (a vida) presenteia, ateia, cutuca
Dá, retira, envolve, chove.
Tem segredos, tem além.
Tem desdém, tem amor.
Tem a, tem b, tem o juntar,
somar, subtrair, potencializar e dividir.
A vida tem surpresas.

Tem dias breves, tempo longo.
Noites intensas, frias, de amedrontar.
Também há loucuras, curas, milagres.
Há tanto, há muito,
há muro, pulo, o escalar.

Eu disse muito,
E não sabia o que dizer.
Eu senti muito,
E não sabia o que sentir.
Eu quis o mundo e não soube o que buscar.

Hoje eu ouso:
Não amou, quem não soube o que é mendigar.










domingo, julho 13, 2014

Agonia

O bom artista consegue transformar sua dor em arte. Transcende-se e como forma de aliviar o que lhe aflige, produz grandiosos feitos.
Não me vejo como artista, mas encontro em mim a estúpida necessidade de decifrar minha agonia. E toda agonia, por si só, condensa um tanto de dor e tem um Q de desamor.
Causa mal, faz doer, retira o equilíbrio, assombra os pensamentos e enfurece o coração.
Infelizmente lhe digo que, por diversas vezes na vida, passaremos por sensações como essa. E, sim, isso é péssimo e extremamente doloroso.
Viver dias agoniados é como viver dias sabendo o quanto desejará esquecê-los.
Viver dias agoniados é como assistir a um espetáculo dessincronizado.
É como acordar mais ou menos, passar horas mais ou menos, trabalhar mais ou menos, dormir desejando sonhar.
Sonhar mais ou menos, sorrir mais ou menos, sentir mais ou menos. Ligar o automático, fazer por fazer. Manipular a hora, acrescentar meias verdades ao tempo que sobrou.
Tentar guardar o amor.
Viver dias agoniados é tentar entender o que pouco se explica.
É tentar esquecer o que o foi bom, quando estas deveriam ser memórias eternas.
É deitar e sentir o corpo inquieto, acordar e desarmar todos os desejos. Fazer, fazer, fazer, fazer até encontrar outro sentido.
Acreditar no que parece improvável.
Hoje, meu coração está agoniado. Pulsa doído, bomba desilusão.
Desilusão do outro, desilusão do querer. Desilusão do sentir, desilusão do acompanhar.
Hoje, meu coração não sente a harmonia, sente-se congelado.
Congelamento do fervor, do furor.
Hoje, meu coração sente-se assaltado, violado, frágil e banido.
Banido do amor, banido do amar.
Minha agonia, hoje, é tão minha, no entanto, me foi imposta. Minha agonia, de hoje, não depende de mim.
Fui presenteada, e de surpresa!
Surpresa da dor, do chorar. Surpresa que sabota e faz penar.
Hoje, com pesar eu lhes digo: não posso amar!
Amar quem me mostrou o amor, amar quem me deu o amor.
Amar quem eu quero, amar quem me fez pulsar, quem prometeu me acompanhar.
Acompanhar na vida, no caminhar.
Hoje, eu simplesmente não posso. E o não poder me faz agonizar.









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A mesma de sempre com inúmeras alterações.