segunda-feira, fevereiro 11, 2013

O outro (primeiro conto)

E o problema não é lidar com o que não se tem. O problema é lidar com o que se acha que deveria ter.
Desde pequena mostrou-se segura de si mesma, convicta e cheia de aspirações. Seus dias sempre foram regados por muitas aprovações. Ela parecia fazer tudo certo - ou quase tudo, seus erros nunca foram exorbitantes.
As mudanças não pareciam bichos de sete cabeças, afinal sua segurança lhe firmava um respaldar sólido e forte. Temer era inevitável, afinal, para além de sua segurança, as dúvidas sempre lhe foram comuns - seu lado humano sempre fora evidente.
Os dias passavam, oferecendo verões e invernos, para que ela aprendesse a viver sob diferentes condições. Ela vivia.
E juntos cresciam, os dias e ela.
Por algumas vezes viu-se encarcerada em si mesma, com sua pior vilã. Eram batalhas terríveis, dolorosas, sofridas e penosas. No entanto, nenhuma delas fora terminada sem o brilho de um sorriso vivificador.
Pequena e grande ao mesmo tempo, na verdade sempre foi difícil mensurar sua estatura. Enquadramentos sempre lhe foram desafiadores.
Quando deitada, a janela de seu quarto oferecia a possibilidade de ver a passagem do tempo.
Ela crescia!
Seus brinquedos lhe pareciam objetos inúteis; suas melhores graças eram conquistadas pelas palavras. Ela adorava falar; e fazia isso muito bem.
Tudo sempre lhe foi transitório: seus pensamentos, as pessoas, seus brinquedos e seus dias. E assim, entre sorrisos e choros ela se deparou frente a escolhas difíceis. Mas escolhas difíceis sempre parecem fáceis demais depois de escolhidas. Ela detestava a sensação de sofrimento em vão, mas nunca o conseguia economizar.
E dentre escolhas e opções, sofrimentos e boas surpresas, ela se deparou com o seu "não lugar", com suas "não possibilidades" e com suas "não preferências".
Não lhe foi estranho perceber que alguns lugares lhe eram incompatíveis. Não, quando a incompatibilidade era imposta por si mesma.
Não lhe foi sofrido perceber que era incapaz de executar algumas coisas. Não, quando a incapacidade referia-se a algo de pouco interesse seu.
Não lhe foi constrangedor perceber que não era escolhida em determinadas situações. Não, quando as situações pareciam inferiores a ela.
Os dias corriam.
Seu relógio tornou-se um amuleto da sorte ou um grande temorizador. Ela tornou-se habilidosa com o tempo, mas este sempre lhe pareceu mais veloz.
E entre a velocidade do tempo e a rapidez dos dias, ela notou que estava presa. Algemada pelas crenças dos outros! Acreditava em si mesma porque os outros lhe acreditavam.
A pequena apenas precisava chorar.
Descobriu que o choro aliviava essas amarras, dando acesso às suas fraquezas - até então percebidas apenas por ela mesma.
Seu relógio lhe provava constantemente que não era possível parar. E ela continuou.
Continuou e percebeu que o que ela queria, podia não acontecer.
Caminhou e notou que o que acreditou ser seu, na verdade não era.
Correu e percebeu que o que os outros lhe diziam não era verdade absoluta, eles viam apenas de um ângulo.
Divagou e encontrou outros olhares; outros interesses; alguns Talvez para os seus desejos, outros 'Quem sabe' para suas propostas e Nãos para o que lhe parecia Sim.
Sentou e entendeu que não era insubstituível.
Deitou e mensurou o quanto o outro lhe influenciava. Chorou.

Acordou e exclamou:
- Devo continuar!






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