quarta-feira, junho 09, 2010

Preguicinha

Estava ele ali dormindo feito um anjinho, enquanto tudo acontecia ao seu redor. Carros passando sem parar, pessoas entrando, saindo daquele ônibus, onde ele estava. Onde estávamos nós dois. Ele ali no colo aconchegante de sua mãe, sonhando, talvez, - quem sabe se com uma imensa coleção de figurinhas, um grande estoque de doces ou quem sabe, ainda, uma partida de futebol - e eu aliadmirando seu sono, tão puro e tão forte.
"Acorda filho, nós temos que descer!" era o que aquela mãe dizia na tentativa de fazer com que seu anjinho despertasse para descerem no próximo ponto. Ele pareci nem ouvir. Eatava ali dormindo, enquanto tudo acontecia à sua volta, não lhe parecia nada incômodo; nem poderia ser. Admirei o modo como aquela mulher tentava, incessantemente, acordá-lo; mãos em seus cabelos, como na forma de um delicioso cafuné, dedos apertando aquela boquinha como se fosse um peixinho. Tentativas em vão, ele não acordava! Só fazia virar e dormir mais um puquinho.
Me reconheci ali, na figura daquele pequenino, cheia de preguiça e com uma imensa vontade de dormir. Desejei estar sentada no colo de minha mãe, como ele, sem medos, com nenhum receio. Seríamos ela, eu e meus sonhos. Mas não.. estávamos ali, eu e mais cinquenta pessoas ao redor daquele garotinho - com carinha de anjo - que dormia prazerosamente embalado pelo calor de sua mãe em uma manhã fria; bem fria!
Após longas tentativas de despertá-lo, - estimulando o olhar dele para seu próprio reflexo em um vidro, como se aquela imagem fosse desconhecida -, após longos cafunés e entre outros gestos... ele teve que se levantar.
Dei espaço para que ambos - mãe e filho - passassem e enfrentassem logo a frente mais algumas pessoas.. pessoas cansadas, pessoas estressadas, cheias de pressa; que talvez não entendessem a presença daquela criança ali, atrapalhando-os. Abri o espaço para que aquele garotinho passasse, vestido com a camisa do Brasil - com um orgulho patriótico ingênuo - e segurando a mão de sua mãe. Abri também o caminho para que enfrentasse lá fora os olhares diversos e os medos múltiplos, o frio congelante e os dias desafiadores; desde os seus poucos dias de vida.
Caminhou ele ao lado daquela que o acolhia sempre, rumo ao frio, rumo ao mundo, lutando contra o sono a caminho da luta diária, fora daquele ônibus, e deixando aquela deliciosa preguicinha de lado.
Ele se foi, com seus passos curtos, segurando na mão de sua mãe. E eu fiquei ali, invejando a deliciosa ingenuidade daquele pequeno patriota. O meu dia prosseguiria, caminhei rumo à uma prova na faculdade.

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