"Não se arrependa de nada que lhe fizera sorrir."
Esta foi uma das frases com que me deparei nestes dias, não me lembro ao certo
em qual ocasião e nem tenho ideia quem a escreveu. No entanto, me lembro
exatamente da sensação que tive ao lê-la: simplesmente concordei e senti que
meu coração fizera o mesmo, ritmando acelerado. Foi uma sensação dúbia, de
identificação e conforto, mas também de embaraço e confusão.
Não havia escolha, tive que me aliar àquela verdade
transcrita, pois ali estava uma pequena parte de minha inexistente sabedoria.
Sem dúvidas aquela era uma de minhas grandes colisões. Meu concordar foi,
seguramente, produto da minha identificação. Concordei porque, de alguma forma,
sempre fora o que eu acreditei.
Nenhum sorriso deve ser desperdiçado, tampouco esquecido,
quem dirá negado. Se eles existiram, de alguma forma foram bons, únicos e
intensos. Penso que, talvez, pouco justificaria um arrependimento. No entanto,
este pouco existe e vivemos tentando esquecer o que nos fez realmente feliz. Em
paralelo, devo confessar um de meus grandes receios; traduzir enfim, uma de
minhas ocorrências humanas: tenho receio de todos que me fazem sorrir um
sorriso verdadeiro.
E, por mais insana que pareça esta proposição, eu permaneço
amedrontada. Um medo que, muito provavelmente você tenha ou, quem sabe, já
sentira na vida. Assemelha-se à insegurança, talvez esteja em uma mesma classe
de respostas. A verdade é que eu tenho medo daqueles que me fazem sorrir e que
me arrancam gargalhas doídas. E com isso, passam a conhecer o que eu chamo de
felicidade. Tenho medo daqueles que me conhecem cruamente, que já me fizeram
chorar de felicidade e sabem, exatamente, como elevar meu humor. Sinto receio
daquelas pessoas com quem eu posso ser eu mesma, sem economizar, sem tirar e nem
pôr. Apenas ser. Amedrontam-me aqueles que me fitam os olhos até que eu desista
e abra um sorriso. Causam-me tremor aqueles que conhecem o som de minha risada
e, mesmo assim, permitem que eu gargalhe.
E como num piscar de olhos, fica claro, nestas linhas, que
tenho medo da felicidade, do que me causa boas sensações. Será mesmo? Esta
colocação me parece mórbida demais e também pouco assertiva! Tendo a ir mais
fundo e descubro que são tantos medos mínimos que se tornam grandes quando
sobrepostos. E aí sim assustam, verdadeiramente.
Mas como pode o sorriso causar tantas sensações
desgostosas, se é ele o anunciador de boas novas, o presságio da felicidade e a
coroação do êxtase? A resposta é a mesma afirmação com que proponho a pergunta.
Os sorrisos me amedrontam pura e simplesmente por serem tão cheios de si, por
produzirem tão boa devastação.
Sendo assim...
Resta-me apenas confessar: amedronto-me porque, humildemente,
tenho pavor de perder quem me faz sorrir!
Não se vá.